WebArt - Arte e tecnologia
"Nossas belas-artes foram instituídas e seus
tipos e usos fixados, num tempo bem distinto do nosso, por homens cujo poder de
ação sobre as coisas era insignificante comparado ao que possuímos. Mas o
espantoso crescimento de nossos instrumentos, e a flexibilidade e precisão que
eles atingiram, as idéias e os hábitos que introduziram nos asseguram
modificações próximas e muito profundas na antiga indústria do belo. Há em todas
as artes uma parte física, que não mais pode ser vista e tratada como o era
antes, que não mais pode ser subtraída à intervenção do conhecimento e do
poderio modernos. Nem a matéria, nem o espaço, nem o tempo são, há cerca de
vinte anos, o que sempre haviam sido. É de se esperar que tão grandes novidades
transformem toda a técnica das artes, agindo assim sobre a própria invenção e
chegando mesmo, talvez, a maravilhosamente alterar a própria noção de arte.”
Contemporaneidade, premonição, clareza. Poucas passagens problematizariam tão
bem as relações da arte com a tecnologia da Internet como o trecho citado
acima. Chega a ser espantoso que tenha sido escrito há 63 anos, mais
precisamente em 1934, pelo poeta Paul Valer, em seu livro La conquête de
lubiquité. O trecho é mais conhecido no Brasil por ter sido escolhido como
citação de abertura do ensaio A Obra de Arte na Época de sua Reprodução
Técnica, publicado em 1936 por Walter Benjamin.
Reprodutibilidade, multiplicação, sincronicidade. É quase desnecessário
ressaltar a importância do texto de Benjamin, um dos marcos na reflexão crítica
sobre a produção cultural do século XX. Ainda que o ensaio de Benjamin tenha no
horizonte apenas os meios de reprodução existentes em sua época pré-midiática,
é no mínimo esclarecedor pensar a possibilidade de uma arte criada na Internet
e para a Internet dentro dos marcos originais lançados por seu ensaio.
A Obra de Arte na Época de sua Reprodução Técnica propõe uma mudança nos
conceitos da estética clássica, acreditando que a possibilidade de reprodução
quase infinita das imagens altera o cerne da experiência artística. A
reprodutibilidade enterraria de vez conceitos como a aura, o valor cultural e a
autenticidade.
Benjamin apontava essa mudança como positiva, por desmascarar a ideologia
elitista da estética ocidental. Para ele, a arte não deveria ser pensada em
oposição à indústria cultural, mas dentro dela. E as tecnologias seriam instrumentos
para desmistificar teorias supostamente universais do belo, mostrando que, na
verdade, elas não passavam de visões de classe sobre códigos socialmente
compartilhados de comunicação.
É dentro desse universo estético e teórico que imaginamos uma mostra de web art
para o evento Arte e Tecnologia. Uma mostra que pretende se constituir num site
dinâmico e permanentemente atualizado, um lugar na rede que abrigue de maneira
viva os questionamentos sobre a obra de arte na época de sua ubiqüidade.
Agora não se trata mais de produzir uma arte sobre suportes como a tela ou o
filme fotográfico, para depois proceder à sua reprodução. Se houver uma arte na
Internet, ela será infinitamente reproduzível. No momento mesmo em que conclui
seu trabalho, o artista já pode ser visto e copiado por milhões de pessoas no
planeta (e até fora dele: a rede também é acessada pelos ocupantes de estações
espaciais). Se Benjamin viu na fotografia e no cinema o início da derrocada da
aura e da autenticidade, não seria na Internet que elas desapareceriam de vez?
Essas foram as questões que orientaram nossa lista de convidados brasileiros
para a mostra. E se dizemos aqui "convidados" em vez de
"artistas", é porque o próprio conceito de artista deve ser
recolocado na Internet. Seria possível pensar na figura de um web artista? Ou
ele seria uma mistura de técnico, intelectual e artesão, como no Renascimento
italiano? Quais as aptidões necessárias para criar arte na rede? Para tentar
responder a essas perguntas, convidamos profissionais brasileiros das áreas de
artes plásticas, design gráfico, vídeo e webmasters a mostrar trabalhos
artísticos desenvolvidos especialmente para a Internet. Esses trabalhos podem
ser vistos no site que montamos especialmente para a mostra.
Paralelamente, relacionamos vários endereços de trabalhos estrangeiros na World
Wide Web, para que qualquer pessoa possa navegar até eles e comparar o estágio
atual da web art brasileira com a produção no exterior. Aura, valor cultural,
autenticidade: de nosso ponto de vista, pouco importa "onde" estão os
trabalhos -se no Brasil ou nos EUA, se nos servidores do Itaú Cultural ou em
outro computador qualquer. É nessa conjuntura que as questões da
reprodutibilidade e da propriedade intelectual se colocam de maneira mais
aguda.
Entretanto, a simples mostra não fecharia o ciclo de nossos questionamentos.
Ainda seria necessária uma nova reflexão crítica, não sobre uma suposta
"qualidade" dos trabalhos apresentados, mas acerca da especificidade
da World Wide Web como meio de expressão artística. Para tanto, chamamos
críticos, jornalistas e intelectuais ligados ao mesmo tempo ao mundo da cultura
e da Internet para, após a abertura de nossa mostra, escreverem ensaios que
questionem a possibilidade de uma arte feita na e para a Internet, em face dos
trabalhos apresentados e/ou "linkados".
Ricardo Anderáos
De acordo com as informações
contidas no texto de Ricardo Andreaós é possível perceber que a evolução
tecnológica era prevista, porém sem imaginar o tamanho e as proporções que
tomaria ainda no mundo contemporâneo.
As intervenções da
tecnologia no campo artístico se tornaram indispensáveis por modificar o campo
artístico com as inovações. A divulgação, as intervenções e a possibilidade do
público interagir com a produção artística e oportuniza a aproximação deixando
que sejam envolvidos pela arte, as formas são recriadas e se transformam. Será
que se imaginava que a tecnologia e a arte se transformariam tanto? Acredito
que talvez sim, pois o tanto o avanço tecnológico quanto as mudanças no meio
artístico acompanham o desenvolvimento da humanidade em todas as suas evoluções
e descobertas.
As formas de reprodução e
divulgação atuais encorajam o artista a desenvolver seus trabalhos por atingir
um número bem elevado de espectadores, tornando o trabalho conhecido
expressando opiniões e críticas com as quais o artista pode aprimorar suas
técnicas.
Certamente que a tecnologia
e arte estão ligadas, porém não são as únicas formas de desenvolver um trabalho
artístico ou uma apresentação se observarmos os trabalhos de gravura encontram
grande aceitação do público. Mas, produzir trabalhos artísticos utilizando as
tecnologias acompanha a humanidade na era tecnológica vivida atualmente, na
qual todos os ambientes estão envoltos com a tecnologia.
Portanto, a arte não poderia
deixar de utilizar essa ferramenta aderindo e transformando algumas técnicas,
descobrindo novos rumos e se aproximando do espectador, que não é mais mero
espectador e sim agente participativo ao interagir com as criações, modificando
e auxiliando no desenvolvimento de suas próprias habilidades.
Fonte:
ANDERÁOS, Ricardo, Arte e Tecnologia – Arte Contemporânea
com Novas Mídias o primeiro site brasileiro especializado. Disponível em <http://www.arteetecnologia.com.br/reportagemnoticia.asp?id=134>
Acesso em 06 de setembro de 2011.